sábado, 24 de maio de 2008

Primórdios da Jornada – Os Últimos dias de Dorcas


Estes acontecimentos são registrados durante uma breve parada no caminho para a cidade de Corvo D’água, onde pretendemos adquirir suprimentos para a continuidade da viagem.

E eis que a vida em Dorcas não era ruim, mas era exatamente este o problema, era medíocre. Ainda que houvesse boas pessoas, tranqüilidade e um trabalho a ser feito, era muito pouco perto do que toda Ansalon tinha a oferecer.

Durante algum tempo o trabalho como tutor do jovem Rulf seguiu mostrando-se uma árdua tarefa, uma vez que o referido jovem insistia em escapar de minhas aulas para se fartar dos prazeres mundanos na taverna de Dorcas. E meu maior aborrecimento era não o de ter de achá-lo e obrigá-lo a retornar aos estudos, mas sim da privação de desenvolvimento mental que suas escapadas causavam ao seu guarda costas, afinal além de se mostrar mais brilhante do que Rulf em seu desempenho, ele era sinceramente interessado no que estudava, uma coisa que é gratificante àquele que ensina.

Achá-lo era sempre uma tarefa dedicada à Argentia, que já havia se especializado em encontrá-lo, sendo que a mera visão dela já era motivo suficiente para que Rulf retornasse rapidamente e tentasse se declarar “inocente” quanto à fuga. Essa era uma rotina a qual eu já havia me habituado, tanto quanto à triste verificação das rotas e das análises de custos para a viagem para Palantas, que insistiam em mostrar que um longo tempo se passaria antes que eu pudesse ter condições de empreendê-la... talvez não, e era isso que neste fatídico dia o destino mais tarde me mostraria.

Por volta do horário da tarde, pouco depois do almoço Rulf, Rexxar e eu retomaríamos uma aula de história de Ansalon postergada devido a uma estranha dor de cabeça alegada pelo jovem Kruli, que pouco tempo depois se mostrou uma fraude, mas que foi motivo suficiente para a desculpa de “depois do almoço continuamos! Estou faminto!”. E mesmo depois desta inconvenientemente longa pausa os estudos forma mais uma vez atrapalhados pela constatação de mais uma fuga, e que desta vez tinha acontecido em um horário totalmente novo. Tal foi meu aborrecimento que enviei Argentia e fui pessoalmente em seguida atrás de Rulf, pensando em que rumo de ação tomar para por algum juízo em sua irresponsável mente. Tal qual era hábito seu Rulf tomava o caminho da vila, deixava Rexxar aguardando-o no bosque nas proximidades da vila, pois sua visita sempre causava alguma espécie de tumulto devido à sua peculiar descendência e aos seus traços físicos que teimavam em demonstrar tal verdade, e em seguida o jovem Kruli se dirigia à taverna, de onde só retornava quando encontrado e levado de volta, ou quando já não mais suportava beber e era praticamente carregado para casa por Rexxar, que o encontrava à beirada do bosque já em quase estado de profundo adormecimento.

Neste dia este hábito de Rexxar se mostrou imprescindível para as vidas de diversas pessoas. Durante sua espera no bosque, que geralmente era composta de treinos de combate e leitura, ele foi capaz de perceber sinais longínquos de aproximação de algo grande, e como é bem habitual de sua inquisitiva natureza foi averiguar o que poderia ser. Tanto Rexxar quanto uma misteriosa figura que se escondia nas árvores puderam ver que à distância de algumas horas de marcha estava um grupo nada amistoso, composto por cerca de uma dúzia de ogros (temíveis criaturas, certamente) ávidos por escravos e riquezas, e liderados por um ser que, há muito não era visto por olhos humanos em Eregoth Meridional, um gigante das colinas, um ser capaz de matar centenas de pessoas em muito pouco tempo, e donos de um temperamento que facilitaria tal matança ainda mais.

A estranha figura oculta nas árvores tratava-se de um jovem (para os padrões próprios da raça) elfo Kanganesti de nome Narmo Eressëa que em comum quer dizer Lobo Solitário. Ele é um dos muitos de seu povo designado para rondar as bordas da floresta onde vivem, e durante sua ronda matutina deparou-se com um problema que não esperava, estes ogros e o gigante caso chegassem à vila humana poderiam assentar-se por alguns dias e talvez descobrirem a localização das florestas Kanganesti, além de em sua ânsia por destruição danificariam pesadamente suas amadas árvores. Tendo isto em mente Lobo Solitário reportou ao ancião de seu povo, que o orientou a alertar os humanos da vila de Dorcas a respeito do iminente ataque para que estes lutassem e os derrotasse caso fossem capazes, ou do contrário fugissem para longe.

Poucos instantes depois de sua desagradável descoberta, Rexxar retornou com o intuito de alertar Rulf sobre o ataque que se dirigia para a vila e tirá-lo de lá, uma vez que tendo vivido uma parte de sua vida entre os ogros sabia que a vila não veria a manhã do próximo dia. No meio de seu percurso pude vê-lo e inquiri-lo a respeito de Rulf, e prontamente fui alertado da derradeira ameaça da cidade, e me senti na obrigação de alertar os moradores de Dorcas. Logo que cheguei à taverna e tentei encontrar Rulf, este que já havia tomado conhecimento de que eu sabia de sua presença ali ao ver Argentia momentos antes tentava desastradamente fugir pela janela de um dos quartos superiores. Abstenho-me de relatar as diabruras que se seguiram, por representar pouca importância nos acontecimentos subseqüentes, mas no momento em que Rexxar sentiu que meu alerta demorava entrou ele mesmo na vila, sendo rude e causando alvoroço entre as pessoas, principalmente ao adentrar a taverna e deparar-se comigo e Rulf saindo. Nós fizemos uma declaração em alta voz a respeito da ameaça que se aproximava, mas fomos desacreditados.

Neste momento percebi que seria necessário mais do que palavras para convencer aqueles pobres tolos acomodados, que acreditavam estar livres de qualquer ameaça dentro de suas casas. Dirigi-me para a saída da cidade e ao me afastar um pouco dos muros de forma que não fosse visto no que faria a seguir, utilizei-me de minhas habilidades arcanas para simular os sons dos ogros que se aproximavam de forma a assim mostrá-los o quão urgente se apresentava a situação. E o quanto mais rápido pudéssemos remover as pessoas da cidade melhor, pois havia muitas mulheres e crianças. O meu plano pareceu funcionar bem, exceto pelo fato de que fui visto por Lobo Solitário que se aproximava para tentar se comunicar com alguém da vila e alertá-los. Sendo de natureza élfica e mais do que isso, o ancião de seu povo era um sábio mago do Robe Branco, Lobo prontamente me reconheceu como usuário de magia e por não saber qual minha filiação e imaginando que eu me tratava apenas de um aprendiz aproximou-se e tentou estabelecer comunicação comigo. Sua surpresa ao descobrir que eu conhecia a linguagem élfica e a falava de forma tão fluente quanto ele (na realidade de forma mais rebuscada, pois o élfico dos Kanganesti se trata de uma forma mais rústica) ficará gravada em minha memória até o fim dos meus dias. Sua aproximação foi curta e ele se manteve como uma misteriosa sombra nos arvoredos, escondido parcialmente, e ele alertou-me da ameaça que julgava ainda ser desconhecida.

A remoção das pessoas da cidade foi lenta e penosa, e durante todo este processo fomos alertar a fazenda Fargo e ao meu contratante pai de Rulf John Fargo. Nos surpreendemos ao ver a atitude de John ao insistir em tentar lutar e derrotar os ogros e o gigante, mas quando conseguimos finalmente mostrá-lo de que isso seria impossível de ser feito, ele decidiu tomar todos seus bois e cavalos, assim como todos os suprimentos e posses e bater em retirada para o sul. Durante este processo Rulf e seu pai desentenderam-se, pois John queria que Rulf o acompanhasse e Rulf não desejava ir com ele. Antes de partir John Fargo deserdou Rulf Kruli, dizendo que ele era ingrato como sua mãe, e neste momento revelou que ela estava desaparecida há muito, tendo fugido quando Rulf ainda era bem pequeno. Com a partida de John Fargo, juntamos o que restava e retornamos à vila para estabelecer um plano de retirada. Que bons ventos acompanhem o indomável John Fargo, que embora temperamental é um bom homem.

Ao chegar na vila tive utilizar-me discretamente de meus poderes para fazer com que Phillip Marthan, o prefeito e chefe da guarda de Dorcas, se tornasse mais amigável para comigo e tomando como referência meus mapas e meu conhecimento da região, estabelecemos uma rota para o norte-noroeste onde sabíamos haver um posto avançado dos nobres Cavaleiros de Solâmia, cavaleiros devotados à ajuda aos necessitados e a combater o mal, e eles certamente seriam os únicos em Eregoth Meridional capazes de parar esta horda de ogros. Nossa viagem tomou início, levando homens, mulheres e crianças e um teimoso anão, Ragnar o ferreiro da cidade, que insistia em bradar a alta voz que deveríamos ficar e combater os ogros. O velho Ragnar era um anão tão interessante quanto era rabugento, já estabelecido em Dorcas há muitos anos como o melhor (e único) ferreiro da vila, já sendo bem velho mesmo para os padrões dos anões e de sua longevidade incrível.

E foi assim que nossa jornada teve início e se deu nossa partida, acompanhados de 300 pessoas e tendo como objetivo a Torre do Leste, o posto avançado dos Cavaleiros Solâmicos ao norte-noroeste do continente-ilha de Eregoth do Sul.

Um comentário:

L.S. Reis disse...

Caramba! O pai ainda conseguiu deserdar o filho no meio de um pandemônio!... rs. Põe temperamental nisso ^^
Abraços, senhor Raynold Warren! Espero que tenham conseguido chegar a seu destino sãos e salvos.